Moro há pouco mais de dois anos na região e venho descobrindo o vinho toscano pouco a pouco, entre uma degustação e outra, nas feiras e eventos que tenho participado, como sommelier e jornalista. Muitas pessoas não sabem, mas vários dos rótulos e procedência de alguns dos melhores vinhos italianos saem da Toscana.
Chianti, Brunello di Montalcino, Nobile di Montepulciano e, claro, os famosos Super Toscanos, saem daqui, desse pedacinho de território, bem no centro da bota. Em 2023, a prestigiada revista Wine Spectator entregou o prêmio de melhor vinho do mundo a um toscano, o Brunello di Montalcino da vinícola Argiano, que nos últimos 10 anos é de propriedade de um brasileiro.
Fica comigo que vou contar um pouco sobre o vinho toscano, suas uvas nativas, a cultura da produção vitivinícola nesse território e como foi a minha experiência na primeira participação no evento Benvenuto Brunello, que apresenta à profissionais do setor, trade e imprensa, a safra que ainda não chegou ao mercado.
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Pedir Cartão →Toscana, antiga e tradicional região produtora de vinhos na Itália. Atualmente, um dos mais importantes berços mundiais em termos de inovação no mundo dos vinhos.
Os tradicionais e mundialmente conhecidos vinhos, como os produzidos na área do Chianti; os famosos Brunellos, da região de Montalcino; mas além deles, os Nobile de Montepulciano e ainda os famosos Super Toscanos, da região de Bolgheri. Todos eles produzidos em apenas uma das 20 regiões italianas, a Toscana.
Compartilhei também as principais rotas do vinho na toscana; se você chegou até aqui, tenho certeza que vai curtir também esse texto, que ainda te ajuda a desenhar um roteiro através dos vinhedos da Toscana.
A Toscana é berço de uvas autóctones, ou seja, nativas do território, conhecidas e utilizadas em outras partes do mundo e que produzem vinhos de excelente qualidade. Entre elas a queridinha Sangiovese, mas também a Vernaccia do San Gimignano, a Trebbiano, a Canaiolo, a Colorino, a Cilegiolo e tantas outras que sozinhas ou em blends, acrescentam estrutura, sabor e aroma aos vinhos.
A Toscana é uma terra de contrastes: paisagens rurais que mais parecem uma pintura; montanhas, praias, colinas, ciprestes, olivais e vinhedos por todos os lados; terra de camponeses, pessoas simples; burgos medievais e ainda mais antigos, que preservam sinais de antigas civilizações, como a romana e a etrusca; uma gastronomia rica de sabores, mas pobre em sua essência e na utilização dos seus ingredientes, pois revive tempos difíceis pelos quais passou o país e a região.
Só quem passa um certo tempo aqui e entra a fundo na cultura toscana reconhece o verdadeiro valor do ‘menos é mais’.
E como se tudo isso não bastasse, o mundo do vinho é um mundo à parte – e gigante! O tradicional e o moderno convivem lado a lado pelo bem da ciência vitivinícola. Tradicionalismo, respeito ao passado, mas com os olhos abertos à inovação, às boas práticas, à ciência e à tecnologia; tudo convivendo em harmonia, como uma bela sinfonia.
A preservação e a manutenção de regras estabelecidas no passado e que até hoje são seguidas, garantem a reputação dos vinhos italianos mundo afora. Por outro lado, a audácia e a aventura, de ir na contramão de um país inteiro, fez surgir o novo; pérolas que fizeram uma verdadeira disrupção no platô estabelecido até então, quando falamos dos Super Toscanos de Bolgheri, que abriram o caminho para outras disrupções mundo afora.
O mundo acompanha o vinho italiano. Safras são acompanhadas por revistas especializadas em vários países do mundo. Elas precisam ser listadas, entendidas, explicadas e compiladas para se ter um histórico de como a natureza se comportou em cada ano de colheita.
Na Toscana, por exemplo, as áreas vitivinícolas mais acompanhadas de perto por especialistas do mundo todo são as de Bolgheri, Chianti Classico, Brunello di Montalcino e a região da Maremma, de onde partem vinhos importantes do território italiano, potentes, intensos e corposos, com uvas autóctones, mas também as internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot, etc.
A Toscana sempre foi sinônimo de inovação. Sempre se reinventou. Não é à toa que foi o berço do Renascimento no mundo. Possui a ‘Denominação de Origem Controlada e Garantida’ – DOCG de maior valor agregado da Itália, a dos Brunello di Montalcino.
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Além disso, possui a área demarcada com regras disciplinares para seus vinhedos mais antiga do mundo, a do Chianti Classico. Por sua vez, regidas pelo edital criado em 1716 por Cosimo III de Medici, Grão-Duque da Toscana, para toda a zona de produção vinícola do Chianti, entre Firenze e Siena, englobando ainda algumas microrregiões à leste e oeste.
Cosimo III, com esse edital, disse ao mundo, ‘só pode se chamar Chianti os vinhos produzidos nesse pedaço de terra: Pomino, Carmignano, Chianti e Val D’Arno di Sopra’, assim criando a primeira DOC no mundo, seguida posteriormente pelo vinho Tokaj da Hungria, o Porto em Portugal e obviamente, por várias regiões da França.
E para os que quiserem conhecer a história de séculos de disputas entre Siena e Firenze, e de como elas terminaram, recomendo investir alguns minutos assistindo ao vídeo que conta a história de como surgiu o nome oficial do consórcio do Chianti Classico, a Leggenda del Gallo Nero del Chianti.
Nas 20 regiões da Itália existem mais de 350 uvas em produção atualmente. Em termos de classificações o país possui: 330 DOC + 77 DOCG + 118 IGT
Antes de mais, é preciso saber que o território toscano atualmente possui 41 DOCs 11 DOCGs e 6 zonas de IGT. Só no Chianti existem 7 denominações diferentes.
Nesse belo pedaço da Itália, 66% da produção de vinhos é feita com sua uva autóctone, a Sangiovese, em suas diversas variações. 85% da produção toscana são de tintos, mas, ainda são produzidos, brancos, rosés e até espumantes de excelente qualidade.
O que todas essas siglas querem dizer? Vamos lá:
E a região ainda tem seus CRUs, ou aqui na Itália chamados de MGA – Mensione Geografiche Aggiuntive – que são os termos usados para denominar um vinhedo específico ou uma zona determinada, onde é produzido um vinho de características muito particulares e originais.
Normalmente são lotes menores de terra, de onde saem uma quantidade limitada de garrafas e de qualidade excepcional. A cada ano que passa mais e mais pedidos de reconhecimento de vinhedos CRUs surgem no território toscano.
Além disso, a Toscana possui uma diversidade absurda de terroirs. Solos calcários, argilosos e montanhosos; colinas que a milênios de anos eram fundo do mar; correntes marítimas que conferem frescor e salinidade aos vinhos; verões com pouquíssima chuva, altitude, frio, calor e uma exposição solar perfeita.
Aproveite e confira essa coluna em que explico a diferença entre guia e acompanhante turístico.
Hoje os vinhos toscanos são reconhecidos como alguns dos melhores do mundo e, na minha opinião, são sinônimo de forte identidade territorial, ou seja, resgate e uso das suas uvas nativas. Mas, ao mesmo tempo, demonstram uma excelente valorização das castas internacionais, em particular, para a DOC Bolgheri.
Os vinhos toscanos têm uma forte pegada gastronômica; sua alta acidez proporciona que muitos dos vinhos sejam guardados por mais tempo. Seus taninos são muito marcados, o que exprime verdadeiramente a marca do território toscano. Ao mesmo tempo, existe uma grande variedade de vinhos toscanos frescos, que precisam ser consumidos jovens e são de excelente qualidade.
A Toscana é uma das gigantes da indústria do vinho, entrega milhões de garradas por ano e exporta mundo afora. Ao mesmo tempo que se vê pequenos produtores mantendo suas tradições e entregando vinhos de extrema qualidade, sem exportar.
Em termos de inovação, uma crescente onda de rosés e espumantes, tem proporcionada a Toscana oferecer um ciclo completo de degustações para seus turistas. Além disso, a crescente preocupação com a produção de vinhos naturais e biodinâmicos, ou seja, uma menor intervenção humana na produção dos vinhos, está colocando a Toscana à frente de muitos outros países, em se falando de produção vitivinícola.
Participei em Montalcino, na Toscana, da 32ª edição do Benvenuto Brunello, um evento especial para a apresentação dos Brunellos da safra 2019.
Organizado pelo Consorcio de Vinhos Brunello de Montalcino, pelo 2º ano consecutivo as degustações aconteceram simultaneamente em Londres, Nova Iorque, Dallas, Miami, Toronto, Vancouver, Zurique, Shangai e Tokyo. Em todos esses lugares os participantes puderam degustar os Brunello safra 2019, considerada pelos experts uma excelente safra, mas também os Brunellos Reserva 2018 e claro, os Rosso di Montalcino 2022.
No primeiro final de semana de evento foi a vez de mais de 70 jornalistas de diversos países, entre eles, o Brasil, degustarem essas iguarias líquidas. E eu estava presente ao evento. Foram 188 vinícolas participantes e 250 rótulos a disposição.
E digo que é impossível degustar tudo! Na entrada ganhávamos uma ficha, com a listagem completa dos 250 rótulos apresentados. Cada participante selecionava os vinhos que gostaria de degustar, em sequências de 6 rótulos; chamava o sommelier que atendia a sua mesa, e ele – ou ela – trazia os vinhos para degustação. Após a sua degustação, análise e anotações, você começava tudo de novo: uma nova sequência de 6 rótulos e assim por diante.
Sou sommelier iniciante, e tive a sorte de ser atendida por uma amiga sommelier, do meu curso da AIS – Associação Italiana de Sommelier, que naquele dia estava a trabalho e atendendo a minha mesa. Ela me deu dicas de bons vinhos para degustar, além de me avisar quando chegavam os rótulos TOP apresentados no evento, que rapidamente acabavam e demorava um pouco para chegarem novamente ao recinto. Entre eles, o queridinho do ano, Argiano safra 2018, que foi eleito pela Wine Spectator, com 95 pontos, o melhor vinho do mundo em 2023.
Bati meu recorde neste evento, tendo conseguido degustar mais de 80 rótulos durante quase 8 horas de degustação, mas, claro, que com o auxílio da nossa sempre presente ‘sputacchiera’, que é o recipiente onde se joga fora o vinho, depois de mantê-lo por algum tempo em boca e sentir todos os aromas que cada vinho pode proporcionar. Impossível beber tudo o que se degusta, mas, enfim, sigo na minha meta de ir descobrindo o vinho toscano, pouco a pouco.
Existem Brunellos maravilhosos, mas sabemos que gosto é uma coisa muito particular, em todo o caso, selecionei alguns dos meus eleitos do dia, para aqueles apreciadores de Brunello di Montalcino:
E para você que adora vinhos, gosta de conhecer novos rótulos, está se programando para vir para Itália em breve e quer participar de alguma feira ou manifestação de vinhos, fique ligado nos eventos dos próximos meses na Toscana:
Para outros meses e outras regiões da Itália consultar o Insidewine, a Tannina e o Calice di vino.
E isso é só o começo, pessoal!! Para os que se aventuram a entrar no fascinante mundo dos vinhos, um evento e degustação de 80 rótulos em um dia é só o pontapé inicial dessa inebriante e deliciosa jornada.
Espero você com uma taça na Toscana!
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