Há cerca de 15 anos, a cidade portuária da Bretanha, na França, tornou-se referência por uma prática um tanto quanto peculiar e curiosa: o envelhecimento de vinhos no fundo do mar. Saiba como funciona esse processo dos vinhos submersos na França e como participar dele no artigo abaixo.

Vinhos submersos na França: a origem dessa tradição

Saint-Malo é atualmente um dos principais pontos turísticos da Bretanha. A cidade de muralhas, fundada no século I a.C. pelos romanos, possui uma tradicional história de pirataria e é fortemente marcada pela cultura marítima e portuária.

Sendo que 4 amigos malouins, como são chamados os locais, decidiram mergulhar garrafas de vinho sob a água do mar, apenas por curiosidade. A ideia inicial veio de um deles, que queria imergir garrafas para o nascimento de seu filho. É comum, entre os enófilos, guardar uma garrafa de vinho para envelhecer em celebração ao nascimento de uma criança.

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E o resultado dessa experiência foi surpreendente!

Ao todo, foram dispostas 12 garrafas de Fiefs Vendéens, do Vale do Loir, no fundo do porto de Saint-Malo tornando a l’immersion, termo em francês para “imersão”, uma tradição anual que virou um fenômeno nacional.

Yannick Heude, sommelier e proprietário da vinícola Saint-Malo Abbey, é o precursor dessa aventura dos vinhos submersos na França. Juntamente com Jean Yves Bordier, o “mestre” da manteiga, surgiu, assim, a associação “l’Immersion” e todos os anos a magia acontece.

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Mas essa técnica funciona?

Segundo Heude, o mar é um ambiente hostil, e, ao mesmo tempo, uma adega perfeita: sem raios UV e com temperatura estável, as garrafas permanecem ao abrigo das oscilações extremas de temperatura.

E a complexidade aumenta justamente por ser Saint-Malo, onde existem as maiores marés da Europa, que fluem duas vezes ao dia. O mar acaba desempenhando, dessa maneira, o papel de batonnage, um processo na vinificação que consiste em nada mais que “agitar” o vinho.

Através dessa prática, os vinhos submersos na França ficam mais estáveis face à oxidação e resultam mais suntuosos, encorpados e harmoniosos. Ou seja, apesar do amadorismo inicial, há uma explicação plausível que justifica a sua excelência.

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Como é o processo?

A cada ano, Heude altera a sua seleção, mas ele sempre inclui garrafas de vinhos tradicionais e, inclusive, de champagne, por funcionar muito bem, já que as bolhas fracionadas tornam-se mais finas.

E o processo de imersão das garrafas dos vinhos submersos franceses é sempre o mesmo, em que são armazenadas 300 garrafas em uma caixa, chamadas “Palox”, feitas de tábuas e construídas pelos produtores de mariscos. Ao todo são preparadas 2 delas, totalizando 600 garrafas. É importante ressaltar que essas caixas são revestidas com uma cêra de cortiça e seladas para evitar um vinho “iodado”.

Posteriormente, elas são transportadas de barco e um mergulhador profissional, para trabalhar com segurança a 15 metros de profundidade, se encarrega da imersão dos vinhos. Ele delicadamente dispõe as caixas no solo e, em seguida, recolhe a leva do ano anterior. E toda operação é monitorada pela Société Nationale de Sauvetage en Mer (SNSM), organização da guarda costeira.

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O que acontece depois?

A degustação dos vinhos retirados do mar é, de fato, um momento muito especial. A própria retirada das caixas submersas remetem a tesouros encontrados no fundo do mar, trazendo, novamente, o espírito bretão a este ritual! Após 12 meses de espera, Heude e sua equipe posicionam cada caixa no centro da multidão.

A “prova cega” se passa sempre uma hora após a saída das caixas da água, na presença dos vitivinicultores que imergem os seus vinhos e daqueles que irão mergulhá-lo. No ano passado, foram provados os vinhos de Loïc, Château St. Cyrgues, Cuvée de l’Amérique, en Costières de Nîmes, por exemplo.

A retirada em 2018 ocorreu em 3 de junho, totalizou 600 garrafas de vinho da safra de 2017, liberadas da água na baía de Saint-Malo. E esse momento tão aguardado contou também com a presença de inúmeros curiosos.

Nas duas caixas emergidas, havia garrafas dos vinhedos de Vincent Lieubot, enólogo do sul de Nantes. Este foi o primeiro ano para as suas garrafas na água. Para ele, é uma aposta no futuro: “A profissão vitivinícola é, acima de tudo criativa, e torna-se necessário encontrar novas técnicas para proporcionar novos gostos para os clientes”, disse com entusiasmo.

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E é possível participar?

Sim, é!

Anualmente, no primeiro fim de semana de junho, gourmands e sommeliers adquirem as suas entradas e são convidados a provar os vinhos envelhecidos no mar, e a degustar especialidades locais que incluem as ostras de Cancale da casa de Tombelaine, a manteiga Bordier, o pão fermentado de Philippe Renault em Saint-Énogat, e a tripa de Jérôme.

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O que está incluído no passeio?

Além de acompanhar o processo de imersão e retirada das garrafas, bem como participar de toda degustação dos vinhos submersos na França, os participantes acompanham a Société Nationale de Sauvetage en Mer em um curto passeio à Cézembre, uma ilha costeira desabitada, com exceção de um hotel e restaurante abertos somente no verão, localizada na baía de Saint-Malo.

Onde posso saber mais?

Os bilhetes para a próxima edição ainda não estão à venda, mas é possível acompanhar a sua divulgação através deste site.