Em muitos países, assim como no Brasil, as atividades de guia turístico e guia acompanhante se sobrepõem, mas na Itália, elas são absolutamente diversas e com regras bem claras de atuação. Guia e acompanhante turísticos exercem atividades complementares.

Nesse artigo você vai conhecer as diferenças entre guia e acompanhante turístico para poder escolher, ou unir a expertise destes dois profissionais em suas próximas viagens.

Por que decidi trabalhar como guia acompanhante na Itália

Cheguei na Itália – lugar que sempre morou meu coração – em dezembro de 2021 e daqui não saí mais. Sabia que seria para sempre, não tinha dúvidas, e assim aconteceu. Até porque, o primeiro lugar onde me hospedei foi na Toscana e…ahhh… a Toscana!!

Que lugar mágico, cheio de belezas naturais, gente autêntica, paisagens de tirar o fôlego, comida boa e saudável e vinhos! Claro que eu não poderia deixar de citá-los; todos os vinhos maravilhosos e para todos os gostos que a Toscana tem, dos mais leves e frutados aos mais encorpados e estruturados; brancos e até espumantes.

Não conheci ainda todas as regiões da Itália, mas, por enquanto, é na Toscana onde quero viver para sempre.

Quando efetivamente realizei que ficaria não apenas por um tempo, mas em definitivo, comecei a organizar meu futuro por aqui e, claro, que pensei: por que não trabalhar com turismo?

Minha experiência na área de turismo

Trabalhando como jornalista e relações públicas, eu já havia transitado pelo mercado do turismo, quando atendi a Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu. Fazíamos a promoção turística da usina hidrelétrica mundo afora, junto com os demais atrativos turísticos da cidade, como as maravilhosas Cataratas do Iguaçu, Parque das Aves e tantos outros pontos interessantes da tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai.

Depois, fiz a minha passagem pela Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), e ajudei a promover o Brasil em 10 países, entre a América Latina e Países Ibéricos.

E, logo depois, fui a feliz proprietária do primeiro hostel boutique, também em Foz do Iguaçu, no Paraná. Durante oito anos entrei de cabeça no mundo do turismo e da hospitalidade, recebendo turistas do mundo inteiro no meu hostel e organizando passeios por toda a nossa região. Me apaixonei verdadeiramente por esse setor e descobri uma nova forma de continuar ‘me comunicando’ com minha audiência, e de uma maneira ainda mais divertida e interativa.

E foi por conta de toda essa bagagem que resolvi empreender mais uma vez, agora aqui da Itália, e trabalhar novamente com turismo, planejando e organizando viagens, recebendo pessoas e mostrando tudo o que maravilhoso país tem a oferecer.

Assim descobri na função de Accompanhatore Turistico, ou também conhecida como Tour Leader, minha nova área de atuação aqui no país da bota. Mas qual é a diferença entre um guia turístico e um guia acompanhante? Vem comigo que eu te explico!

As diferenças entre o guia turístico e o acompanhante

Na Itália, assim como em muitos outros países, existem diferenças significativas entre um guia turístico e um guia acompanhante. Ambos desempenham papéis importantes no setor do turismo, mas suas funções e responsabilidades são distintas.

A primeira delas é oficialmente a função ‘core’ da atuação. Um guia turístico vai te apresentar história, arte, cultura, arquitetura, prédios, política, religiões, construções, monumentos, enfim, tudo o que um determinado local, cidade, estado, povos e países tem para contar.

Esse profissional estudou muito, muitas horas a fio, para ser capaz de contar a história de centenas de milhares de anos, de cultura, de povos, territórios e civilizações, resumidas em animadas conversas e bate-papos com seus clientes.

O curso para ser guia turístico na Itália é rigoroso e exaustivo. Muitas horas de curso, estudo, estágio e provas orais para comprovação dos conteúdos aprendidos e a obtenção da licença oficial. Aqui na Itália a licença é chamada de ‘patentino di guida’, é homologada pela região em que o guia fez seu curso e seus exames, mas válido para todo o território italiano.

O guia turístico é habilitado e autorizado a guiar nas ruas, dentro de prédios públicos, igrejas, museus, galerias, escavações arqueológicas, entre outros locais.

Accompagnatore turistico

Já o accompagnatore turistico, ou tour leader tem diversas outras funções ‘core’, para as quais ele estudou, se formou e onde pode atuar. Um guia acompanhante não é tão somente a pessoa que ‘acompanha’ o turista nos seus destinos, mas na maior parte das vezes, ele é o coordenador e o responsável absoluto pelo sucesso (ou fracasso) de uma viagem em grupo.

O accompagnatore turistico pode, desde ser o mentor, criador e planejador da viagem, traçando itinerário, fazendo reservas em hotéis e restaurantes, providenciando transporte (terrestre, aéreo, ferroviário ou marítimo), até ser o coordenador e o responsável civil pelo grupo, obviamente amparado por uma boa apólice de seguro e uma agência que o suporte.

Habilidades diferentes das do guia turístico

Assim como o guia turístico, o tour leader também precisa fazer um curso, estágio e passar por sabatinas de provas orais com os diretores e avaliadores da sua região turística. Mas as principais habilidades que serão avaliadas nesse caso não serão o conhecimento sobre histórias e civilizações, arte ou cultura, mas sobre técnicas de construção de itinerários, habilidades de gestão de grupos, de pessoas, segurança, primeiros socorros, habilidades de comunicação e problem solving.

Os guias acompanhantes têm um conhecimento geral sobre os locais visitados, mas não necessariamente um conhecimento profundo, técnico e específico como os guias turísticos.

Revisitar a história com o guia turístico é altamente recomendável.
Cidades antigas com muita história, arte e cultura, assim como em museus, a expertise de um guia turístico é imprescindível. Foto: Cyntia Braga

E uma peculiaridade importante, e muitas vezes estranha de gerir: apesar dos guias acompanhantes terem um conhecimento geral sobre os locais visitados, eles não podem fornecer informações detalhadas sobre história, arte ou cultura, nem realizar visitas guiadas a pé, a monumentos ou locais históricos, como igrejas e museus.

Como regra estabelecida, quem fornece essas informações é o guia turístico; o acompanhante pode fornecer todas as informações que souber, dentro das vans, carrou ou ônibus, mas nunca em praça pública, nunca acompanhando seus clientes pela rua, como fazem os guias.

Então, não se assuste se você questionar seu tour leader no meio da praça, em terra, sobre algum monumento ou informação histórica e ele não te responder. Não será porque ele não sabe, mas, sim, porque ele pode levar uma multa se fizer isso, pois estaria fazendo desvio de função profissional.

Por que contratar cada um deles – e os dois, em suas viagens?

Quando começamos a pensar em uma viagem e fazer as pesquisas nos sites de busca, sites especializados, blogs e redes sociais, a gente descortina um mar infinito de informações, e muitas vezes fica difícil de gerir tudo depois.

Hoje em dia, com a grande oferta e a facilidade de se comprar pacotes prontos das grandes agências e tour operators, muitas pessoas acabam comprando o que eu costumo chamar ‘os enlatados do turismo’. Aqueles destinos batidos, itinerários prontos que todos fazem, restaurante de modinha com filas de horas de espera, 3 ou 4 obras de arte famosas que a gente lembra de ter estudado nos livros de história e os pratos chamados de ‘típicos’, mas que são customizados para turistas, que os locais não comem.

Travel Designer

E é aqui que entra a expertise de um ‘criador de itinerários’, hoje em dia mais conhecido pelo belo título em inglês de travel designer. E o guia acompanhante estudou para isso, ele é um travel designer e pode criar e organizar o melhor itinerário para a sua viagem, levando em consideração a logística de transporte, procurando minimizar ao máximo deslocamentos desnecessários, selecionando o melhor meio de transporte.

Também, sugerindo hotéis adaptados ao seu orçamento e gosto pessoal, assim como pontos turísticos que muitas vezes não entram no roteiro das grandes agências, além de restaurantes e experiências exclusivas.

O accompagnatore turistico pode elaborar um roteiro completo para sua viagem, inclusive te aconselhando em quais localidades é importante contratar o guia turístico. Assim, você aproveitará muito mais determinados locais, do que fazendo sozinho, principalmente no que se refere a entrada em museus, galerias, igrejas, ruínas de antigos povos e civilizações.

Com um guia turístico a sua visita não será apenas um local para você dar um check como ‘visitado’ e fazer uma selfie, mas é garantia de horas agradabilíssimas, ouvindo de maneira fácil e animada, uma infinidade de informações importantes que te proporcionarão verdadeiramente memórias e histórias inesquecíveis.

Nesse Reels, um exemplo de uma perfeita fusão Guia x Acompanhante: Lene Moreira, guia turística e Cyntia Braga, guia acompanhante.

Conheça a função do guia sommelier

Claro que você já ouviu falar em viagens com o foco na enogastronomia, não é verdade? Aquelas viagens que vão além de visitar cidades e locais pela sua história, arte, cultura e monumentos, mas que focam no que aquele destino tem de melhor no que se refere aos vinhos e as comidas típicas do local.

Muitas agências já fazem esse tipo de roteiros, focados em experiências com esse viés, comida e vinhos, mundo afora. E são elas, muitas vezes, que lançam mão de um profissional extremamente importante nesse tipo de roteiro, o sommelier, profissional especialista em degustações de vinhos e em combinar os vinhos com as comidas, para uma perfeita harmonização e valorização de cada item, comida e vinho.

Degustação guiada por sommelier.
Guia sommelier garante o sucesso nas suas harmonizações

Os sommeliers possuem um conhecimento geral sobre as diferentes tipologias de vinhos e uvas, do mundo todo, estudaram muito para isso. No entanto, a grande maioria é especializada nos vinhos da sua região, ou do seu país. Por exemplo, eu como sommelier, estou me especializando nos vinhos da Toscana, pois moro aqui.

Para uma viagem focada nesse viés enogastronômico, é importante sempre contar com a ajuda do sommelier local, do destino da sua viagem, e isso, as agências especializadas em enoturismo saberão te indicar.

E aí, que tal contar com a expertise de cada um desses profissionais na sua próxima viagem ao exterior, pois nada melhor do que uma visão real de quem mora no local para deixar o seu roteiro e a sua viagem perfeitos, não é mesmo?!

Arrivederci!